sábado, 25 de agosto de 2018

José de Abreu Bacelar e os judeus no Rio de Janeiro

Quase todos nós já ouvimos a história de Domingos Afonso Sertão, o qual era muito rico. Mas porque era rico? Diz-se que era fazendeiro e tinha muitas fazendas. Mas porque os outros também não eram como eles? A resposta é que ele era rendeiro, e até deixou problemas para o fisco, pois devido à sua morte não pode cumprir integralmente os contratos (OFÍCIO de João da Maia da Gama, a Antônio Marques Cardoso, sobre o falecimento do contratador dos dízimos reais do Piauí, Domingos Afonso, descrevendo o procedimento a ter por este não haver cumprido as condições do contrato. AHU). Os rendeiros eram pessoas que ganhavam o direito de cobrar os impostos do Reino Português após ganharem os respectivos leilões. Era um trabalho perigoso, pois nesta época os índios invadiam até a vila da Moucha e arraiais próximos (Carta de João da Maia da Gama para Antônio Marques Cardoso em 25/09/1728, AHU_ACL_CU_016, Cx.1, D.40). Luís Carlos da Serra Negra, por exemplo, foi rendeiro em Marvão do Piauí. José de Abreu Bacelar, seu tio, foi rendeiro no Rio Parnaguá, no sul do Piauí. Se conseguissem arrecadar mais do que o que tinham pago no leilão, enriqueciam. José ficou muito rico, pois foi rendeiro durante muitos anos. Mas como José conseguiu dinheiro para participar e ganhar leilões? Só vejo uma explicação plausível: José teria "herdado" de sua esposa Brites da Costa (foi condenada por heresia e apostasia, além de ter todos os bens tomados), de seu sogro Manoel de Paredes da Costa e sua mulher Izabel Gomes da Costa e talvez dos demais parentes destes,  os quais foram presos por judaismo e levados para cumprir pena em Lisboa em 1712. Como Cavaleiro da Ordem de Cristo José tinha o foro privilegiado da época e pode sim, ter ficado com parte dos bens dos ricos parentes de sua jovem esposa, cujos bisavós foram os primeiros judeus ricos do Rio de Janeiro e que construiram a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação (http://nsapresentacao.org/site/historia/), a primeira do Rio de Janeiro. O engenho principal de Manoel de Paredes ficava em Sapopema e lá havia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Nos autos, estranhamente, não é citado se Brites tinha filhos, seja com José ou com seu falecido marido Manoel Pestana de Brito. Muitas eram as pessoas livres vinculadas aos engenhos de Manoel de Paredes, tais como as que testemunharam a favor de Brites: Pedro Vieira, Manoel Vaz Coelho, Pe. Bernardo de Almeida, Izabel Proença, Andreza Almeida, Pedro Vieira Homem. É uma conjectura muito óbvia que José tornou-se o líder destas pessoas livres que trabalhavam nos engenhos. E se o José de Abreu Bacelar for o mesmo (e deve ser, pois não se faziam Cavaleiros da Ordem de Cristo todo dia!) que foi para o rio Parnaguá no Piauí, então deve ter levado alguns "cariocas" com ele. E eram pessoas experientes em finanças, pois já operavam até com exportação.

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