terça-feira, 24 de julho de 2018

A fortuna de Luís Carlos da Serra Negra

Ainda hoje existem pessoas pensando que Luís Carlos da Serra Negra foi enterrado junto com sua fortuna, convertida em ouro e pedras preciosas. Outros pensam que ele, por ser Cavaleiro da Ordem de Cristo, foi levado pelos membros desta ordem mística, os quais teria ficado com a sua fortuna. O que sei é que sua fortuna foi dividida entre os seus herdeiros em um inventário com testamento tendo seu parente João Nepomuceno Castelo Branco como juiz, auxiliado em Campo Maior e Marvão pelo juiz Antônio José Nunes Bona. Fizeram o inventário e distribuíram para os dois filhos legítimos, em pé de igualdade com os outros três que haviam sido legitimados antes do casamento com Luzia Perpétua, supostamente conforme a vontade do defunto (este testamento eu nunca vi e gostaria de ver. Se alguém o tiver me avise!), inclusive aplicando uma lei a qual mandava excluir algum cônjuge que não estivesse no Brasil por ocasião da morte do inventariado. E excluiram a viúva meeira, LUZIA PERPÉTUA CARNEIRO DE SOUTOMAIOR BACELAR, a qual estava em Portugal. Isso ocorreu no final de 1811 e, cópia de parte deste inventário, os historiadores do Piauí conhecem. E os herdeiros, mormente os que já podiam gastar dinheiro, gastaram bastante pois era muito mesmo. E ficaram assim por dois anos até que em 1813 D. João VI estabeleceu uma norma régia mandando tomar tudo de volta. Foi aquele rebuliço, um inferno mesmo, pois todo o Piaui se revoltou, visto que esta norma empobreceu mais ainda o Piaui, pois toda esta fortuna, bem como a produção das fazendas (eram as quarenta grandes daquele tempo!) deviam ser levadas, e foram, para Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão. Muitos foram os presos e mortos nesta pendenga. Foi o período mais turbulento e triste da história política do Piauí. Ficou de um jeito que ninguém queria assumir o governo da capitania. Nem o Simplício Dias da Silva, aceitou "matar a bola no peito". Até uma mulher, Ana Pulquéria de Monserrate Castelo Branco (viúva de um dos irmãos de Luis Carlos), chegou a assinar o livro da governança. Teve um governador que morreu quando estava vindo assumir, e teve outro que foi levado preso junto com seus auxiliares, a saber, JOÃO LEITE PEREIRA DE CASTELO BRANCO. E os descendentes de Luís Carlos que não foram mortos ou presos, fugiram para Pilão Arcado (onde havia sido Capitão Mor com força total, FÉLIX JOSÉ LEITE PEREIRA CASTELO BRANCO, o irmão mais velho de Luis Carlos) ou para as "brenhas do Piauí", como foi o caso do bisavô de meu avô, TORCATO LUIS PEREIRA DE ABREU BACELAR. A única pessoa que chegou a me dar notícia oral dele foi meu falecido primo Antônio Bacelar, o qual foi gerente de hotéis em Teresina-PI (era o velho Trocate, dizia ele se referindo às conversas dos mais velhos!). Até hoje Torcato Luís está no mato, enterrado sabe-se lá onde! As últimas informações que eu tive dele foram em Angical e Roça do Mato, em Marvão do Piauí nos anos 40 do século XIX. Ficaram nesta pendenga até 1823, quando resolveram tomar o poder (o Piaui tinha motivos de sobra para guerrear!). Mas o Fidié e as tropas cearenses não deixaram. A viúva foi embora muita rica para Portugal deixando uma conta pesada para nós brasileiros pagarmos, segundo diziam os senadores da época. Mas pelo menos ela deixou quadros valiosos, que não couberam na bagagem. Para encurtar esta história: em 1885 morreu o homônimo filho (a filha, coitada, morreu afogada em naufrágio quando ia do Rio de Janeiro para São Luís casar-se!) de Luís Carlos com a Luzia, muito rico (assim diziam os jornais portugueses da época!) e sem descendentes. Se habilitaram para receber esta herança alguns descendentes dos irmãos de Luzia Perpétua. Não sei se conseguiram botar a mão neste dinheiro. Só sei que tentaram. Se tiverem conseguido, tal fato explicaria em parte a pujança da elite maranhense ao longo destes últimos 140 anos. Se não, os "portugas" foram os que se deram bem, pois parece que nada ficou no Piauí. Vejam a tentativa na figura abaixo.


5 comentários:

  1. É verdade a estória da negra que foi serrada ao meio? E das onças no porão do temido coronel?

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  2. Não encontrei, jamais, informações escritas sobre perversidades. Ele era extremamente valente. Quando era uma operação terrível o escolhiam.

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  3. Parabéns pela heróica pesquisa, muito esclarecedora avante

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  4. Eu sou tataraneta de Luiz Carlos da serra negra sou bisneta de José Antônio leite Abreu pereira Bacelar castelo branco soares de marinhos sou neta da marieta leite filha de José Antônio idalina

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Comentários