quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Professor Martins e a Busca por Deus



Ao meu colega Martins, inigualável no conhecimento verdadeiro da vida e morte das pequenas e  grandes coisas da natureza.



Ilustríssimo Professor Martins:

Foi com muita alegria e surpresa que recebi a sua pergunta acerca do bóson de Higgs na pequena palestra que fizemos ontem no seminário de matemática e física dos alunos do IFPI. A surpresa foi tanta que fiquei sem jeito para fornecer qualquer resposta, mesmo que fosse para dizer que nada sei acerca de detalhes técnicos relativos ao tema. Mas eu poderia, tal como fazem os políticos, pelo menos dar respostas colaterais relacionadas à minha pouca experiência com os princípios da física quântica. Sou partidário da opinião de que física e matemática são componentes de uma mesma corrente, sendo a matemática, tão somente as extremidades de todos os elos da mesma. Exatamente por isso, julgo que o físico vai muito mais longe quando leva seriamente o matemático em consideração. É o que penso ter feito Vossa Senhoria ontem, pois creio que o ilustre colega sabe que não tenho militância alguma em mecânica que não seja a velha mecânica celeste, cujos primeiros passos estudei na UFPI e na UFPE.

 

Minha irmã Loisima Schiess que escreveu comigo „Physikalische und Mathematische Verbindungen der Teilungsgerechtigkeit” (http://publikationen.stub.uni-frankfurt.de/frontdoor/index/index/docId/24907) escreveu recentemente uma matéria de jornal sobre questões sociais que citava a tal partícula, muito em moda, também chamada "partícula de Deus" (http://www.meionorte.com/efremribeiro/por-que-vitoria-da-ciencia-sobre-a-natureza-artigo-de-loisima-miranda-schiess-215614.html). Até pediu ela que eu opinasse, mas não me atrevi a falar sobre a partícula, pois entendo que só após uns três anos de intenso estudo eu seria capaz de opinar minimamente sobre detalhes destas teorias. Mas só dentro de um plano axiomático, pois tenho problemas de princípio com a mecânica quântica, pois nos livros que estudei não pude assimilar filosoficamente os tais princípios de quantização. Entendo que a continuidade  pitagórica(descoberta de números irracionais)foi um grande avanço para a ciência, bem como a teoria das equações diferenciais, mormente os teoremas de continuidade e existência, os quais são os melhores modelos para o determinismo. Fica difícil para mim, compatibilizar os princípios de quantização com o uso intensivo que a teoria quântica faz das equações diferenciais, a qual é repleta de continuidade.

 

Certa vez eu expliquei para meu filho de 15 anos o tal método da diagonal de Cantor. Ele não aceitou e eu então pedi para explicar novamente e ele disse que havia entendido plenamente. E então passou a me explicar, e explicou. Então fiquei pensando que ele estava com “molecagem” comigo e, quando eu estava já quase me zangando, lembrei-me de Luitzen Brouwer, o qual foi o grande mestre no uso do método de dedução ao absurdo e que, no final da vida, não aceitava mais este método (a diagonal de Cantor usa este método). E não adiantou eu espernear, pois isto é um direito intelectual dele que só ele pode mudar. É o que ocorre com os princípios básicos e específicos da mecânica quântica em relação a mim. Aceito a continuidade plenamente. Para mim, cada partícula pode ser um universo e, cada universo que julgamos grande, pode ser uma partícula, pois para quem aceita a continuidade, qualquer número é zero diante do infinito grande, e cada número, por menor que seja, é infinito para o zero.

 

No desenvolvimento da mecânica celeste viam-se experimentalmente as partículas e os movimentos e buscava-se as causas, os campos de forças e o modo como causavam os movimentos e sua posterior descrição (dialética cartesiano-hegeliana). Na mecânica quântica, salvo melhor juízo, busca-se as próprias partículas para explicar as causas que supostamente provocam, isto é, as forças que causam no mundo observável macroscópico. É um eterno supor que é para ver como é que fica, o qual é o método preferido dos matemáticos quando estão acovardados diante de um problema difícil e querem “forçar” o aparecimento de uma demonstração. Só que na matemática há a vantagem de posteriormente a demonstração ser feita, enquanto na física das partículas não se tem prova alguma, só a tão esperada não observação de contradições dentre as infinitas possivelmente existentes. E fica-se por isto mesmo, com um mundão de partículas hipotéticas. Neste aspecto, vejo muita semelhança da mecânica quântica com a genial teoria ptolomaica.

 

Sob a ótica acima esboçada, muitas partículas são tão especulativas quanto o geocosmos de Mostafa Abdelkader e até menos reais que os monstros da análise matemática. A propósito, na palestra que ontem apresentamos no SEMAFIS 2012, baseada em nosso artigo "Novos Métodos de Construção de Quadrados Semi-Mágicos e suas Aplicações ao Ensino de Matemática Computacional e Mecânica Clássica" apresentado em Cuba, não falamos nos "quadrados semi-mágicos (mágicos) infinitos de Lohans", os quais são limites, quando a ordem converge para o infinito, de distribuição de massa em quadrados semi-mágicos (mágicos) de Lohans de uma massa pré-fixada. Para nós estes infinitos quadrados de Lohans são tão reais quanto qualquer destas partículas. Já calculamos seus centros de massa, seus momentos de inércia e, brevemente, calcularemos suas dimensões fractais.


Lossian Barbosa Bacelar Miranda.
lossian@oi.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários