sexta-feira, 10 de maio de 2013

O Arquivo Morto do Cartório de Castelo do Piauí

Antes de falecer, o antigo tabelião do Cartório de Castelo do Piauí(não citarei seu nome para que esta pequena homenagem não seja confundida com apologia a servidor público!) me pediu para fazer um livro sobre Luís Carlos da Serra Negra, pois ele queria saber direito quem havia sido Luís Carlos. Julgo não ter realizado o desejo deste grande brasileiro. Não escrevi, ainda, o livro, só o artigo "DEMONIZAÇÃO E MITIFICAÇÃO DE LUÍS CARLOS DA SERRA NEGRA", publicado em 2012 no Rio de Janeiro pela Associação Brasileira de História Oral (http://www.encontro2012.historiaoral.org.br/resources/anais/3/1340394649_ARQUIVO_DemonizacaoENHO2012UFRJ.pdf). 

Muitos brasileiros vão fazer turismo cultural em Portugal, ver os arquivos da Torre do Tombo que fazem referências às suas famílias. E muitíssimas vezes esquecem que quase todos os documentos relativos ao Brasil que lá se encontram, também estão aqui, ou pelo menos deviam estar. A burocracia colonial, quase toda militarizada, beirava a perfeição. Para cada documento que ia, uma cópia ficava. Não haviam meninos pagãos, sem registro como existe hoje, fossem eles pretos, brancos ou mestiços. Só escapavam os índios selvagens. O "arquivo morto" do cartório de Castelo do Piauí, muito mais vivo do que todos nós juntos, conta toda esta história. Lá existem documentos fantásticos, como é o caso de parte do inventário de Luis Carlos da Serra Negra, feito em 1811. Neste documento pode-se ver como funcionava de fato, e em detalhes, o poder judiciário neste período. Tudo é descrito com grande precisão. Lendo o documento o operador do direito atual pode enxergar a viagem feita pelo juiz e todos os seus auxiliares, as dificuldades no percurso, o tempo gasto, a quilometragem, a grana para cada um, a localização das fazendas (muitas delas no que hoje é o Ceará!), os utensílios domésticos, a vida dos escravos e procedência dos mesmos, a vida dos vaqueiros, os antigos nomes dos rios e riachos, as tramas políticas... 

Com base na experiência adquirida digo sem medo de errar:



Se toda a história colonial contida no arquivo morto do cartório de Castelo do Piauí fosse responsavelmente colocada na INTERNET, tal como fazem os arquivistas da Torre do Tombo (http://digitarq.dgarq.gov.pt/), os próprios portugueses viriam a Castelo conhecer mais sobre a história dos seus ancestrais. Em pouco tempo o turismo cobriria todos os gastos.

Isto começa a ocorrer em São Luís do Maranhão, visitada por todo europeu que vem ao Brasil. Se não houver respeito à cultura, que haja pelo menos ambição. Afinal, é um bem durável que aumenta de preço à medida que vai ficando mais velho e usado. O antigo tabelião e seus ancestrais fizeram a parte deles. Cabe a nós fazer a nossa. 


Pedimos ao Tribunal de Justiça do Piauí / TJPI, ao CENAJUS e ao IPHAN que fiquem mais atentos à questão da preservação dos arquivos mortos das antigas vilas fundadas por João Pereira Caldas.

Lossian Barbosa Bacelar Miranda.
lossian@oi.com.br

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